Metaverso muda a dinâmica de ensino nas universidades brasileiras, apontam professores

Durante o Rio Innovation Week, docentes da Unirio e da USP abordaram o potencial transformador do metaverso no ensino superior

10/30/20233 min read

O metaverso, embora não esteja mais tão em evidência como estava no primeiro semestre de 2022, continua a exercer um impacto significativo. Durante o Rio Innovation Week, os professores André Paz e André Aquino ressaltaram o potencial transformador que o metaverso pode ter no futuro das universidades brasileiras.

A popularização dessa tecnologia tem gerado mudanças que continuam a ser sentidas. O metaverso oferece a oportunidade de criar ambientes virtuais interativos e imersivos, nos quais estudantes e professores podem se conectar e colaborar de maneiras inovadoras.

Esse avanço pode abrir novas possibilidades para a educação, permitindo uma maior inclusão e acessibilidade, além de promover a experimentação e a criatividade. Embora seu destaque possa ter diminuído, o metaverso ainda tem um papel relevante a desempenhar no futuro das universidades brasileiras.

MISTURANDO REAL E SURREAL

Na sexta-feira (6), durante o painel “Metaversos e o Futuro das Universidades”, realizado na trilha “RIW & Meta Mundo”, o professor André Paz comentou sobre o uso do metaverso nas universidades usando como exemplo a instituição na qual é professor adjunto, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Desde julho deste ano, a Unirio conta com uma versão virtual do Empreende, projeto dedicado a fomentar conexões e colaborações que possibilitem testar os limites e possibilidades do metaverso. Além disso, Paz comenta que o espaço também surgiu para modernizar laboratórios e incubar empresas, contando com professores e pesquisadores de diferentes áreas do saber.

“A ideia por trás de iniciativas como essa é acolher um público que não é do game com o metaverso, adequando a tecnologia para necessidades e interesses de outros grupos sociais”, conta Paz durante sua apresentação.

Para atrair novos usuários para o metaverso criado, o espaço Empreende foi criado na versão virtual da Urca, que é o mesmo lugar onde se situa a Unirio. O professor adjunto da Unirio explica que o modelo do prédio do Empreende no metaverso é inspirado no Museu de Arte de São Paulo, mas sem as pilastras, pois não há limitações físicas no ambiente virtual.

A ideia é trabalhar o realismo para acolher novas pessoas, mas também inserir elementos surreais do metaverso. Segundo Paz, a relação entre metaverso e universidades é uma via de mão dupla. O ambiente virtual deve captar o que já acontece dentro da universidade e tentar melhorá-lo, enquanto a universidade também deve propor mudanças no metaverso.

REIMAGINAR CONCEITOS NO ENSINO

A universidade é um ambiente multifacetado, conforme enfatiza André Aquino, professor titular da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP). Além do ensino, ela é composta por processos que englobam a pesquisa e a gestão. A popularização dos universos virtuais tem o poder de influenciar essas dinâmicas, conforme observa Aquino.

Com a chegada do metaverso, questões como presença, papel do professor e métodos de ensino precisam ser reavaliadas. Aquino também é um dos coordenadores do Metalab, um grupo de pesquisa e inovação da USP que se dedica ao estudo dos impactos e oportunidades da adoção de Mundos Virtuais e Metaverso nas organizações e na sociedade como um todo.

O professor da USP destaca que a ideia de um único universo virtual conectando pessoas é uma utopia. As universidades precisam estar preparadas para aceitar que existem diversos mundos virtuais, com diferentes tipos de tecnologia, inclusão e abertura.

É necessário, então, aceitar a ideia de interoperabilidade. Apesar das transformações em curso no ensino superior, causadas pelo metaverso, Aquino ressalta que essa relação ainda está em fase de experimentação. "Ainda estamos no período do chamado hype, que conta com pouca reflexão de quais são as melhores formas para aplicar a tecnologia", destaca o professor da USP.

Nessa fase, um dos maiores desafios para criar experiências imersivas é a geração de conteúdo, na avaliação de Aquino. O objetivo é superar essa barreira e chegar em uma fase mais madura de engajamento..

“Ainda é necessário chegar em outras formas de distribuir os conteúdos coletivamente, possivelmente com soluções 3D, e distribuir o conteúdo para docentes de outras áreas além de tecnologia, como ciências sociais e humanidades”, acrescenta Aquino.

Além disso, Aquino defende que os metaversos não devem replicar a realidade atual, que apresenta amplas lacunas de desigualdade. O universo virtual deve criar abertura, com novos espaços de interação, gerando oportunidades.

“Por exemplo, as pessoas que têm óculos de realidade aumentada e aquelas que não têm já replicam uma dinâmica de desigualdade do mundo real. A camada virtual deve servir para construirmos algo melhor, mais inclusivo”, conclui o professor da USP.

Reconstrução do metaverso da Unirio na Urca
Reconstrução do metaverso da Unirio na Urca